Operação apura esquema criminoso que desviava benefícios de aposentadoria e pensão; irmão do presidente seria um dos beneficiados
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quarta-feira (24) uma operação para desarticular um esquema de fraudes contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que teria causado um prejuízo estimado em mais de R$ 6 milhões aos cofres públicos. Entre os investigados, está José Ferreira da Silva, conhecido como “Zezé”, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A investigação teve início após o cruzamento de dados do INSS com movimentações financeiras atípicas e indícios de falsificação de documentos para a obtenção irregular de benefícios previdenciários. Segundo a Polícia Federal, o grupo criminoso atuava com auxílio de servidores públicos e contava com a participação de familiares e intermediários para viabilizar o esquema.
Como funcionava o esquema
De acordo com a PF, o grupo utilizava documentos falsos e laudos médicos adulterados para criar registros de aposentadorias por invalidez, pensões por morte e outros tipos de benefícios. Após a concessão dos benefícios, os valores eram divididos entre os participantes do esquema, incluindo os falsos beneficiários.
“Identificamos um padrão de concessões suspeitas, todas envolvendo os mesmos intermediários e perícias médicas realizadas com laudos forjados. A estrutura era sofisticada e contava com apoio interno no sistema da Previdência”, afirmou o delegado responsável pela investigação, que pediu para não ser identificado.
Envolvimento de Zezé Lula
Segundo o relatório da PF, José Ferreira da Silva teria sido beneficiado diretamente por um dos esquemas fraudulentos e, em ao menos duas ocasiões, teria utilizado sua influência para intermediar concessões indevidas junto ao INSS de São Bernardo do Campo (SP), onde reside.
Ainda de acordo com os investigadores, o nome de Zezé apareceu após a quebra de sigilos bancário e telefônico de outros envolvidos. Ele teria recebido repasses mensais em contas bancárias vinculadas a beneficiários inexistentes.
Mandados e ações da Polícia Federal
A operação, batizada de Benefício Ilícito, cumpriu 16 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão preventiva em São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pela 6ª Vara Federal de São Paulo, com base em indícios robustos de organização criminosa, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva, e estelionato contra a administração pública.
“É um golpe contra os aposentados e os brasileiros que contribuem corretamente. A meta é recuperar o dinheiro desviado e responsabilizar todos os envolvidos”, declarou o superintendente da PF em São Paulo.
Defesa nega envolvimento
Em nota enviada à imprensa, a defesa de José Ferreira da Silva negou qualquer envolvimento com o esquema e afirmou que ele “está sendo vítima de perseguição política por sua ligação com o presidente Lula”. O advogado também declarou que “Zezé está à disposição da Justiça e que provará sua inocência”.
O Palácio do Planalto informou, por meio de sua assessoria, que “não comenta investigações em andamento” e que “confia nas instituições responsáveis pela apuração dos fatos”.
Fraudes no INSS continuam preocupando órgãos de controle
As fraudes no INSS continuam sendo uma preocupação constante do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU). Apenas em 2024, mais de R$ 3 bilhões em irregularidades já foram identificadas em auditorias conjuntas. A CGU estima que fraudes como a investigada nesta operação podem representar até 10% do total de benefícios concedidos anualmente.
Lula evita comentar o caso
Durante agenda oficial no Ceará, o presidente Lula foi questionado por jornalistas sobre o envolvimento do irmão na operação da PF. Visivelmente desconfortável, limitou-se a dizer: “Cada um responde pelos seus atos. Eu sou presidente, não sou tutor da minha família”.
Analistas políticos avaliam que o episódio pode ter reflexos no discurso de integridade e combate à corrupção que Lula tem defendido em seu terceiro mandato. “Mesmo que não haja envolvimento direto, a exposição de familiares em escândalos corrói a imagem pública”, afirma a cientista política Carolina Mendonça.
O que acontece agora
A Polícia Federal continuará as investigações nas próximas semanas, com análise de documentos e depoimentos dos envolvidos. A expectativa é que novas prisões e quebras de sigilo sejam solicitadas ao Judiciário.
Os valores desviados estão sendo rastreados por meio do sistema de cooperação entre o Banco Central e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Parte dos recursos já foi bloqueada em contas vinculadas a nomes fictícios usados no golpe.