Jussara Paes foi sentenciada a 19 anos de prisão em 2022 pelo assassinato do marido, o cardiologista Denirson Paes, em um crime que chocou o país em 2018
A Justiça de Pernambuco concedeu liberdade à viúva Jussara Paes, condenada em 2022 a 19 anos de prisão pelo assassinato e esquartejamento do cardiologista Denirson Paes, morto em 2018 em Aldeia, na Região Metropolitana do Recife. A decisão, proferida nesta semana, atende a um pedido da defesa e determina a soltura da mulher, que havia confessado o crime durante as investigações.
O crime, que ganhou grande repercussão nacional à época, aconteceu em junho de 2018, dentro da residência da família, localizada no condomínio Torquato Castro, em Aldeia, Camaragibe. Após a morte do médico, Jussara ocultou o corpo do marido em uma cacimba no quintal da própria casa, fato que só foi descoberto após dias de investigações da Polícia Civil.
Prisão preventiva revogada após julgamento de recursos
Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), a decisão que revoga a prisão preventiva de Jussara ocorreu após análise de recursos apresentados pela defesa, que argumentou que não havia mais risco de interferência nas investigações ou ameaça à ordem pública. O entendimento foi acatado pelo relator do caso.
“A liberdade da acusada está condicionada ao cumprimento de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, comparecimento periódico em juízo e proibição de se ausentar da comarca sem autorização judicial”, informou o TJPE em nota.
A defesa de Jussara comemorou a decisão. Em entrevista à imprensa local, o advogado responsável afirmou que “a decisão é uma vitória do direito ao devido processo legal” e que irá continuar buscando a anulação da sentença, alegando irregularidades no julgamento.
Relembre o caso
O assassinato de Denirson Paes, de 54 anos, causou comoção e revolta na população pernambucana e em todo o país. Conhecido na região por sua atuação na medicina e por ser um pai de família, Denirson desapareceu em junho de 2018. Dias depois, seu corpo foi encontrado esquartejado dentro de uma cacimba no quintal da residência da família, em avançado estado de decomposição.
As investigações apontaram que Jussara cometeu o crime sozinha e tentou ocultar o corpo para dificultar a identificação. Exames realizados no Instituto de Medicina Legal (IML) confirmaram a identidade da vítima. No momento da prisão, a mulher confessou o homicídio, alegando motivos pessoais ligados à relação conjugal.
Durante o julgamento, ocorrido em maio de 2022, o Tribunal do Júri acolheu a tese do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que enquadrou o crime como homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Jussara Paes foi sentenciada a 19 anos de reclusão.
Condenação mantida, mas em liberdade
Apesar da soltura, a condenação da ré continua válida. A decisão judicial não representa absolvição, mas sim a substituição da prisão preventiva por medidas alternativas. O caso ainda corre em instâncias superiores, onde a defesa tenta reverter a condenação.
Especialistas jurídicos explicam que o cumprimento da pena em liberdade pode ser revertido caso haja decisão contrária em recursos futuros. “A liberdade não anula a condenação. É uma medida cautelar, e não definitiva”, afirmou o criminalista André Galdino.
Impacto na família e na comunidade
O assassinato e o julgamento da viúva deixaram marcas profundas na família Paes e na comunidade de Camaragibe. Vizinhos relataram que o casal aparentava ter uma convivência tranquila, e a brutalidade do crime pegou a todos de surpresa.
“Era um homem bom, sempre ajudava quem precisava”, disse um ex-paciente de Denirson que preferiu não se identificar. A repercussão do crime foi ampla, especialmente por ter sido cometido dentro do ambiente familiar e com requintes de crueldade.
Processo segue em curso
A Procuradoria-Geral de Justiça de Pernambuco informou que ainda aguarda o julgamento dos recursos apresentados pela defesa de Jussara Paes junto ao Tribunal de Justiça. O Ministério Público reforça que continua acompanhando o caso e atuando para garantir que a sentença seja mantida.
A defesa, por sua vez, sustenta que houve falhas no processo penal e que a confissão da ré foi colhida sob pressão. “Nossa meta é anular o julgamento, garantir um novo júri e restabelecer a verdade dos fatos”, declarou o advogado da viúva.
Enquanto isso, a sociedade civil segue acompanhando com atenção os desdobramentos judiciais e discutindo o papel da Justiça em crimes de comoção social.