Coletânea de Mari Bigio e Kemla Baptista reúne cinco títulos dedicados aos Orixás e propõe uma nova forma de mediação de leitura na primeira infância.
Lançamento une literatura, ancestralidade e educação
As autoras Mari Bigio e Kemla Baptista lançam, no Recife, a coletânea infantil “Orixás em Verso e Rima”, uma obra que entrelaça literatura de cordel, tradição afro-brasileira e educação antirracista. O projeto será apresentado em dois momentos: na quarta-feira (12), às 14h, na Casa de Alzira/Muafro, no Recife Antigo, e quinta-feira (13), também às 14h, no Museu da Abolição, na Madalena, Zona Norte da capital pernambucana.
A coletânea reúne cinco títulos dedicados a Oxalá, Exu, Yemanjá, Nanã e Xangô, de forma lúdica e poética, convidando as crianças a conhecerem a riqueza dos Orixás e a herança da cultura iorubá. Os textos foram escritos por Mari Bigio, a partir de argumentos de Kemla Baptista, e se destacam por um olhar cuidadoso sobre a religiosidade de matriz africana.
Cordel como ferramenta de memória e reparação simbólica
Cada título combina texto rimado, xilogravuras, glossário de iorubá e faixas em áudio, compondo uma experiência de leitura sensorial e inclusiva. As apresentações de lançamento terão contação de histórias, performances poético-musicais e interpretação em Libras, reforçando o caráter acessível da iniciativa.
“Para muitas infâncias, o cordel é a primeira chave. Quando verso, imagem e som se encontram, com xilogravura, glossário em iorubá e narração em áudio nas nossas vozes, as crianças reconhecem os Orixás como parte da própria história e aprendem cuidado, respeito e pertencimento”, afirma Mari Bigio.
Ela ressalta que a leitura, nesse formato, “vira experiência viva de escuta, corpo e memória, fortalecendo a mediação de educadores e famílias desde a primeira infância”.
Já Kemla Baptista destaca o impacto social e simbólico da publicação: “Diante da dívida histórica do país com os povos de terreiro e do histórico excludente na tradição do cordel, esta obra se apresenta como publicação necessária e pioneira. Ao combater intolerâncias e preconceitos, ela reinventa a tradição a partir do olhar, da escuta e do afeto das crianças”, explica.
Segundo ela, o objetivo é recolocar o cordel “como ferramenta de memória, reparação simbólica e futuro”, além de promover o reconhecimento da cultura iorubá “como parte da nossa história coletiva”.
Literatura e pedagogia de mãos dadas
Além de seu valor artístico, a coletânea tem forte potencial pedagógico. As autoras acreditam que o material pode integrar acervos escolares e bibliotecas públicas, contribuindo para a formação leitora e para o ensino sobre as heranças africanas no Brasil.
Os cordéis foram pensados como ferramentas educativas que estimulam o gosto pela literatura desde cedo. Com sua linguagem lúdica e sensível, as obras aproximam crianças e educadores de um universo simbólico repleto de ensinamentos sobre respeito, diversidade e ancestralidade.
Produção e distribuição com foco na inclusão
A primeira tiragem do projeto conta com 2.500 folhetos de cordel, distribuídos em 500 coletâneas, sendo 100 delas doadas a escolas da Rede Municipal do Recife. As demais serão disponibilizadas nos eventos de lançamento, também com distribuição gratuita.
O projeto é viabilizado com apoio da Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Lei Paulo Gustavo, com recursos do Ministério da Cultura. Conta ainda com o apoio institucional da Casa de Alzira/Muafro, do Museu da Abolição e da Secretaria da Primeira Infância do Recife.
Cordel como ponte entre passado e futuro
“Orixás em Verso e Rima” se insere em um movimento contemporâneo de revalorização do cordel nordestino, agora com novas vozes e perspectivas. As autoras, ambas mulheres negras, trazem à cena uma literatura que reconhece as raízes africanas como parte viva da identidade nacional — e não apenas como tema do passado.
O projeto também propõe uma reflexão sobre como o cordel, tradicionalmente dominado por narrativas masculinas e brancas, pode se tornar um espaço de reparação, empoderamento e diversidade, abrindo caminho para que crianças cresçam com referências positivas sobre suas origens e pertencimentos.
Serviço
Lançamento da coletânea “Orixás em Verso e Rima” – Mari Bigio e Kemla Baptista
📍 Casa de Alzira/Muafro – Recife Antigo: 12 de novembro, às 14h
📍 Museu da Abolição – Rua Benfica, 1150, Madalena: 13 de novembro, às 14h
🎟️ Entrada gratuita














